domingo, 6 de junho de 2010
"Viajo porque preciso, volto porque te amo."
Aïnouz Karin já conhecido por Madame Satã e Marcelo Gomes ( Cinema, Aspirinas e Urubus) voltam a cena novamente por “ Viajo porque preciso, volto porque te amo”. O título do filme é uma frase encontrada em um banheiro nas estradas do Nordeste. A partir de uma história de amor (um geólogo – José Renato, em crise no casamento, sai em viagem de trabalho com a função de mapear as condições geológicas onde iria passar um canal desviado do rio mais caudaloso no Nordeste – nada mais simbólico), Karin vai intercalando à narrativa imagens e situações vivenciadas ou não pelo protagonista. As imagens vão desvelando um nordeste conhecido (ou não) e muito discutido (ou não) por nós - um nordeste pobre, cidadelas à beira da estrada, prostituição regados a pinceladas poéticas, produções de subjetividades e muita “esperança’. O filme, na verdade, é uma “mixagem” de imagens coletadas por Karin e Marcelo em suas viagens pelo nordeste. Utilizando diferentes recursos digitais, cenas de várias partes do sertão e semi-árido brasileiro é o pano de fundo imagético. A cena final é na bela “Piranhas” divisa de Alagoas com Sergipe que na ficção narrativa aparece como outra cidade. Uma pena, pois às vezes questiono as representações das cidades nas narrativas cinematográficas. “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, nos leva, fora das terras de Ara, a sentir toda dimensão de ser nordestina, a produzir uma identificação subjetiva onde ao mesmo tempo em que nos embevece, também incomoda pelo desvelamento das representações (ou representação) do(s) nordeste(s). Parece-me que filme incomoda ( num outro sentido) muito mais o público do eixo sudeste-sul ( questão importante para pensar, pois vi também “Sonhos Roubados” de Sandra Werneck sobre três adolescentes numa comunidade carioca e capturo muito mais do que o lugar em si, as possibilidades humanas e interpretativas que perfaz a his(es)tória. “Viajo porque preciso, volto porque te amo” não é um filme fácil nem dado às interpretações rápidas; um filme para ser visto e debatido várias vezes.
Texto: Fátima Lima
Imagens do Filme.
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O post lembre que preciso viajar mais neste Nordeste, neste Sergipe. Meter a cabeça e mergulhar.
ResponderExcluirExcelente domingo!
Caro AD, ver esse filme me fez perceber quantos nordestes habitam em mim... Acho que vou até fazer uma poesia... Beijos...
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