
“Certa vez, em Maracaípe, litoral de Pernambuco, vivi uma das maiores experiências sensoriais que minha memória tem registro. Estava em um rio, há alguns quilômetros da praia e do povoado. No deslocamento de volta era preciso passar por uma extensa faixa de areia. À medida que caminhava, rumo à praia e ao vilarejo, me distanciava cada vez mais das pessoas e das vozes. Aos poucos, me vi naquela imensidão, só o soprar do vento e um enorme silêncio, um silêncio tão profundo que me atordoou. Pensei - a morte deve ser assim: silenciosa, profundamente silenciosa como a vida, na sua gênese, é. Por coincidência, recentemente li um texto de Michel Foucault sobre o silêncio “ Silêncio, sexo e verdade”. Cansada das leituras acadêmicas, comecei a ler “ Antes do nascer do mundo” de Mia Couto( altamente recomendável) e, tomada de súbito, o primeiro capítulo trazia o personagem Mwanito – o afinador de silêncio. Pensei: Como, nessa sociedade verborrágica, esquecemos de cultivar o silêncio e perceber o que ele nos fala.”
Gênese
“ No silêncio habita linguagens
Palavras mudas
Gestos por vir
No silêncio
Se funda a vida
Inscrita antes do existir...
O Silêncio urde gestos
Acaricia a pele
Emudece lábios
Ordena a vida
Revolve o caos”
Texto e Poesia: Fátima Lima
Imagem: Tela " O silêncio onde arde o sol" de Adeise Aparecida Pinez
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