domingo, 15 de novembro de 2009

"Gênese"




“Certa vez, em Maracaípe, litoral de Pernambuco, vivi uma das maiores experiências sensoriais que minha memória tem registro. Estava em um rio, há alguns quilômetros da praia e do povoado. No deslocamento de volta era preciso passar por uma extensa faixa de areia. À medida que caminhava, rumo à praia e ao vilarejo, me distanciava cada vez mais das pessoas e das vozes. Aos poucos, me vi naquela imensidão, só o soprar do vento e um enorme silêncio, um silêncio tão profundo que me atordoou. Pensei - a morte deve ser assim: silenciosa, profundamente silenciosa como a vida, na sua gênese, é. Por coincidência, recentemente li um texto de Michel Foucault sobre o silêncio “ Silêncio, sexo e verdade”. Cansada das leituras acadêmicas, comecei a ler “ Antes do nascer do mundo” de Mia Couto( altamente recomendável) e, tomada de súbito, o primeiro capítulo trazia o personagem Mwanito – o afinador de silêncio. Pensei: Como, nessa sociedade verborrágica, esquecemos de cultivar o silêncio e perceber o que ele nos fala.”

Gênese

“ No silêncio habita linguagens

Palavras mudas

Gestos por vir

No silêncio

Se funda a vida

Inscrita antes do existir...

O Silêncio urde gestos

Acaricia a pele

Emudece lábios

Ordena a vida

Revolve o caos”


Texto e Poesia: Fátima Lima

Imagem: Tela " O silêncio onde arde o sol" de Adeise Aparecida Pinez

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